quinta-feira, 21 de março de 2013

A vida profissional do cristão.

     Se Deus criou o mundo e a sociedade dos homens enquanto colônia organizada, os cristãos devem desprezar o pecado, mas jamais a criação e as criaturas. Eis o valor bíblico que orienta cristãos protestantes calvinistas evangélicos na sua vivência com o mundo e a vida que Deus nos dá. Particularmente, nesta reflexão, eis alguns princípios para nortear os cristãos em suas vidas profissionais por todo lugar e momento.

     Robert Knudsen escreve sobre o Calvinismo como uma força cultural e apresenta princípios básicos desta visão cristã de mundo que oportunizaram a influência do protestantismo reformado na sociedade dos homens: "No Calvinismo não há dicotomia entre Cristianismo e Cultura; (...) por causa de sua maneira penetrante de entender a doutrina da criação, a universalidade da revelação divina e o lugar da lei, é impossível ao Calvinismo (...) pensar em termos de uma simples e incondicional distinção entre esferas de atividade divina e humana; (,,,) toda a vida, inclusive a cultura, é teonômica, isto é, tem sentido somente quando está sujeita a Deus e à Sua lei; (...) o poder do Deus-criador-soberano abrange também o curso da história..." (p. 12, O Calvinismo como uma força cultural)

     Abraham Kuyper, teólogo, professor, palestrante, primeiro ministro do parlamento holandês no início do século passado - calvinista, também apresenta princípios estruturais da cosmovisão reformada que orienta toda esfera do mundo como lugar para o cristão servir, e conhecer a Deus: "Ao mesmo tempo o Calvinismo tem dado proeminência ao grande princípio de que há uma graça particular que opera a salvação e também uma graça comum pela qual Deus, mantendo a vida do mundo, suaviza a maldição que repousa sobre ele, suspende seu processo de recuperação, e assim permite o desenvolvimento de nossa vida sem obstáculos, na qual glorifica-se a Deus como Criador (...) Doravante, a maldição não deveria mais repousar sobre o mundo em si, mas sobre aquilo que é pecaminoso nele. Em vez de vôo monástico para fora do mundo é agora enfatizado o dever de servir a Deus no mundo, em cada posição da vida. Louvar a Deus na Igreja e servi-lo no mundo tornou-se o impulso inspirador; na Igreja, deveria ser reunida força para resistir à tentação e ao pecado no mundo." (p. 39, Calvinismo)

     A Bíblia de Genebra também apresenta comentário específico acerca da atuação dos cristãos em nosso mundo, sob título "Os cristãos no mundo", p. 1426: "(...) Os cristãos são enviados por seu Senhor à humanidade decaída para dar testemunho perante ela a respeito do Cristo de Deus e de seu Reino, e para servir em suas necessidades (...) A Bíblia não sanciona nem o recolhimento monástico, nem o mundanismo (...) Os cristãos devem ser diferentes dos que estão ao seu redor, observando princípios morais de Deus, praticando o amor e não perdendo a sua dignidade de portadores da imagem de Deus. (...) Portanto, a tarefa atribuída aos cristãos é tríplice. A principal missão da Igreja é evangelizar (...) Também o amor ao próximo deve levar constantemente o cristão a praticar obras de misericórdia (...) Finalmente, os cristãos são chamados para cumprir sua "missão cultural", que Deus deu à humanidade na criação. A humanidade foi criada para administrar o mundo de Deus, e essa administração é parte da vocação humana em Cristo, tendo por alvo a honra de Deus e o bem dos outros. A "ética do trabalho" protestante é, essencialmente, uma disciplina religiosa, o cumprimento de um "chamamento" divino para administrar a criação de Deus."

     Há diversos textos bíblicos que ensinam os princípios acima expostos. Um dos mais abrangentes está em Colossenses, capítulo 3, verso 18 até cap. 4 verso 6. O título que os tradutores incluíram na bíblia para esta porção é "Responsabilidade Social". Os temas iniciam pela responsabilidade do cristão em família (esposa, marido, filhos e pais), chegando à sociedade comum (servos-empregados e senhores-patrões), culminando no chamado ao constante testemunho cristão que deve ocorrer em todo lugar - um fruto eficaz oriundo da oração, perante os de fora, com sabedoria e palavra agradável. Afinal, os cristãos devem anunciar o "evangelho" às pessoas, e não um juízo legalista farisaico religioso institucional.

     Ou seja, se a "vida" dos cristãos deve acontecer como tal enquanto vivenciam sua existência em  família - tempo no trabalho - tempo perante os de fora da igreja, observa-se que das 24 horas do dia e dos 7 dias da semana; há, sim, muito tempo para "andar" com Deus. A "vida dentro da igreja" é adoração e capacitação - não é serviço e testemunho, nem mesmo experiência cristã no mundo, pois o mundo, está lá fora. Avante, cristãos - rumo à Profissão!

     Os cristãos precisam enxergar - logo, que as 8h ou 10h diárias que dedicam às profissões e estudos afins, são momentos vivenciais fundamentais - tanto para seu amadurecimento espiritual quanto para seu serviço como discípulos de Jesus. A missão cristão rumo ao mundo precisa chegar aos locais de trabalho, mundo econômico e salas de aula. O mundo "profissional" também precisa conhecer o Reino de Deus. E os cristãos precisam conhecer a Deus também em sua vida secular profissional - basta de crentes domingueiros. Aquilo que o homem semear, também irá colher. Impossível semear os valores humanos na semana e colher no domingo - e na eternidade, os valores do Reino de Deus. O tempo deste engano já passou.

     Os cristãos precisam assumir o testemunho - e suas decorrentes provações e bençãos cristãs, também na vida profissional. É preciso ser sal da terra e luz do mundo a fim de que o "reinado" de Deus apareça e as pessoas descubram que Ele é bom e vive no mundo. Isto requer cristãos "bem-aventurados", também enquanto exercem suas profissões durante a semana, ou fins de semana.
     Somente os pobres de espírito poderão receber a riqueza do Reino dos céus. Portanto, é preciso se humilhar sendo pobre vivencial a fim de que o Senhor nos enriqueça ensinando como devemos viver neste mundo. Após aprender o jeito como Deus vive, iremos chorar pelo jeito como vivemos e pela falta do jeito d`Ele em nosso meio. Mas, esta busca vale a pena porque seremos consolados. Pra aprender o jeito de Deus viver precisamos ser os bem-aventurados mansos, que se permitem ser conduzidos pelo Senhor e assim recebem d´Ele a terra por herança. E assim seguem as demais bem-aventuranças, uma consequente e dependente à experiencia da outra.
     São bem-aventuranças que não devem ser buscadas apenas no domingo igrejeiro, mas, fundamentalmente, precisam ser "lutadas" na vida profissional de cada um de nós. Somente assim Deus irá aparecer no mundo do trabalho e economia, pois seremos aprendizes constantes de Jesus em uma vivência cristã que nos acompanhará e poderá iluminar todo lugar que estivermos.
     A provação irá aumentar se quisermos viver nossas vidas profissionais à luz da Bíblia. Mas nosso relacionamento com Deus será facilitado pela coerência de buscarmos agir sempre a partir de uma só verdade - cristã; junto ainda, de um testemunho novo acerca de Deus Pai, pois será igualmente ministrado durante toda a semana - não apenas no domingo.
     Avante cristãos - rumo à profissão.


ESTUDO DEVOCIONAL

Avante cristãos, rumo à profissão!
Texto Bíblico: Colossenses 3.18 até 4.6
Introdução:

     O título que os tradutores incluíram na bíblia para esta porção (Col 3) é "Responsabilidade Social". Os temas iniciam pela responsabilidade do cristão em família, chegando à sociedade comum trabalhista, culminando no chamado ao testemunho cristão que deve ocorrer em todo lugar e perante os de fora, com sabedoria e palavra agradável - um fruto eficaz oriundo da oração.
     Portanto, a "vida" dos cristãos deve acontecer como tal enquanto vivenciam seu tempo em  família - tempo no trabalho - tempo perante os de fora da igreja, ensinando que nossa oportunidade de "andar" com Deus ultrapassa os fins de semana e avança semana adentro, 7 dias por semana. A "vida dentro da igreja" é a adoração e capacitação para sermos sal da terra e luz do mundo.
Teologia:
     Robert Knudsen escreve sobre o Calvinismo como uma força cultural: "No Calvinismo não há dicotomia entre Cristianismo e Cultura; (...) por causa de sua maneira penetrante de entender a doutrina da criação, a universalidade da revelação divina e o lugar da lei, é impossível ao Calvinismo (...) pensar em termos de uma simples e incondicional distinção entre esferas de atividade divina e humana; (,,,)" (p. 12, O Calvinismo como uma força cultural, edit cult cristã)


     Abraham Kuyper, teólogo calvinista e primeiro ministro do parlamento holandês no início do século passado, apresenta princípios estruturais da cosmovisão reformada: "Ao mesmo tempo o Calvinismo tem dado proeminência ao grande princípio de que há uma graça particular que opera a salvação e também uma graça comum (...) Doravante, a maldição não deveria mais repousar sobre o mundo em si, mas sobre aquilo que é pecaminoso nele. Em vez de vôo monástico para fora do mundo é agora enfatizado o dever de servir a Deus no mundo, em cada posição da vida. Louvar a Deus na Igreja e servi-lo no mundo tornou-se o impulso inspirador; na Igreja, deveria ser reunida força para resistir à tentação e ao pecado no mundo." (p. 39, Calvinismo)
Comentário:
     A missão cristã neste mundo precisa chegar aos locais de trabalho, ação política e salas de aula. O mundo "profissional" também precisa conhecer o Reino de Deus. E os cristãos precisam conhecer a Deus também em sua vida secular profissional. Aquilo que o homem semear, também irá colher. Impossível semear os valores humanos na semana e colher no domingo - e na eternidade, os valores do Reino de Deus. O tempo deste engano já passou.
PERGUNTA:
     Você sente dificuldades de coerência pessoal e perante os de fora quando se dedica mais ao cristianismo "dentro da igreja" do que em todo tempo e lugar? Você sente dificuldades de coerência em sua alma e seu relacionamento com Deus quando é "bom" na igreja e "normal" no mundo? Você já pensou que não conseguiria servir a Deus e crescer como cristão, se permanecesse "trabalhando" no mundo?
Comentário:
     Os cristãos precisam assumir o testemunho - e suas decorrentes provações e bençãos cristãs, também na vida profissional. É preciso ser sal da terra e luz do mundo a fim de que o "reinado" de Deus apareça e as pessoas descubram que Ele é bom e existe no planeta. Isto requer cristãos "bem-aventurados", também enquanto exercem suas profissões durante a semana, ou fins de semana.
     As bem-aventuranças são as virtudes de caráter que nos ensinam a "viver" como Deus e também se apresentam como os valores que irão iluminar e salgar o mundo, conforme Mateus 5. São atos de testemunho cristão que irão aumentar nossa provação - se quisermos viver nossa vida profissional à luz da Bíblia. Mas nosso relacionamento com Deus será facilitado pela coerência de buscarmos agir sempre da mesma maneira, semeando o espírito e não a natureza humana.
PERGUNTA:
     Você já tentou levar para sua vida profissional valores cristãos? Você definiu ou pensa em definir sua vocação profissional à luz de valores cristãos? Você se sente fraco e bem orientado ou capaz de atuar na vida profissional com satisfação e fé?
ORAÇÃO FINAL





   

quarta-feira, 13 de março de 2013

As paixões humanas e os desejos do cristão.

     As paixões humanas de todos nós são bem conhecidas: filmes e tv, esportes e lazer, jornais e revistas, churrascos e praia, amigos e namoros, casamento e familiares, igreja e filosofias, trabalho e dinheiro, ócio e descanso, etc e etc, e etecetera. A lista vai longe. Tão longe quanto tudo que iremos ver e vivenciar nos quase 300 dias que restam no ano, e que também viveremos nos anos que ainda virão. Haja paixão!

     Em meio a tantas humanas paixões, que acompanham igualmente todos os seres humanos; surgem também, os desejos do cristão. Pois o cristão também convive com os filmes e o lazer, com os jornais e a praia, com os namoros e o casamento, com o dinheiro e o descanso, e etc e etc. Enfim, o que se percebe é que as paixões comuns à humanidade também se tornam desejos comuns aos cristãos - uma aproximação de interesses que muito preocupa o povo de Deus. 

     Portanto, já que as paixões humanas movem os desejos do cristão, resta ponderar alguns princípios e possibilidades a fim de que esta realidade existencial dos humanos cristãos se encaminhe por rumos saudáveis e equilibrados a todos que desejam viver a vida com fé em Jesus. 
     O primeiro principio é que as paixões "proibidas" não são os sentimentos e interesses humanos, mas sim, de um lado - as paixões "carnais pecaminosas", e de outro - as "paixões". Não, não é tudo a mesma coisa. 

     Aprendendo com Deus a partir de seu ensino fundamental - Bíblia, atentamos para algumas "paixões carnais pecaminosas" - e portanto proibidas, conforme a carta de Paulo aos Gálatas, cap 5, versos 19 a 21: "Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus." 
     Dentre tantas outras, são estas algumas das paixões possíveis aos homens que nos impedem tanto se aproximar de Deus quanto junto d`Ele permanecer - o que torna a vida atual insuportável e a vida eterna uma maldição, pois é "vida" sem Deus.  

     Neste sentido, quando os interesses de nosso coração e alma surgem desejando intimidade sexual legítima, mas se tornam imoralidade sensual; é que vivenciamos as tais paixões carnais pecaminosas - que não produzem vida (e eterna), mas destruição (Gálatas 6.8). É o princípio da colheita, pois o que for semeado iremos colher. Portanto, sempre que um interesse ou paixão comum aos homens se transformar em um sentimento ou prática contrários ao caráter de Deus; morremos - na alma hoje e depois tudo junto, no corpo também. 

     No entanto, e aí vêm o segundo princípio, sabemos que o cristão também tem as paixões humanas e os desejos de todo mundo. Porém, inicialmente, o problema não é este. Mas sim, a direção e vivência com que iremos experimentar os interesses de todos nós. Qualquer ser humano irá experimentar as paixões que tem e os interesses que busca, conforme as possibilidades que se apresentam e segundo os ganhos e satisfação que se alcança. Neste processo, a imoralidade pode ser somente um valor cultural e a idolatria será ensino meramente religioso, e os ciúmes são normais e a embriaguez faz parte do cotidiano. "Deixa a vida me levar...".
     Não será assim entre os cristãos.

     Diante do desejo de intimidade o cristão irá prescrutar a experiência da imoralidade. Perante o ato de adoração o cristão irá atentar para a possibilidade da idolatria. Conforme o coração reage na emoção o cristão irá prestar atenção ao surgir de egoísmos e dissensão. E destas experiências, irá o cristão se afastar. 
     O segundo princípio, então, ensina a realidade de paixões humanas que são igualmente desejos do cristão, porém; tornam-se sentimentos e experiências viáveis somente a partir da orientação da Palavra de Deus. É a partir disto que o interesse sensual e o desejo sexual poderão, abençoadoramente, gerar intimidade relacional e dedicação personal moralmente edificadoras na experiência dos cristãos. Eis a paixão humana que se tornou desejo cristão redundando em experiência abençoada de satisfação. 

     Finalmente, percebe-se que a satisfação da vida dos cristãos está no temor que faz buscar o que Deus orienta e faz afastar o que Deus proibe. Mas o problema não está nas paixões ou interesses humanos, e sim, nas "paixões carnais pecaminosas" - algo bem diferente. 
     O caminho da (boa) satisfação dos interesses e desejos dos cristãos, depende portanto, tanto do conhecimento da Palavra de Deus quanto do temor à presença do Espírito Santo. Precisamos atentar e logo perceber quando nos afastamos da prática da Palavra de Deus e também quando nos afastamos da presença do Espírito Santo. Pois são estas as maneiras, racional e experiencial, pela qual Deus nos ensina a viver junto d`Ele; ou "morrer" d´Ele distante. 

     Outro princípio a ser estudado é quando os interesses e desejos não são contrários a Deus - como o são as paixões carnais pecaminosas, mas, no entanto, se tornam corrompidos ao se tornarem "paixões" incontroláveis - ou seja, interesses desorientados não em seu princípio de orientação, mas em sua vivência de desequilíbrio. Eis para nós, um próximo tema. 

     Por ora, não devemos fugir dos interesses e paixões humanas de toda nossa raça, mas sim, aprender e apreender a reconhecer no estudo da Palavra e na vivência com o Espírito Santo; quando é que estamos nos distanciando dos (bons) propósitos de vida satisfatória que Deus tem para toda a humanidade - realização que consuma eficazmente na vida dos cristãos.