sexta-feira, 26 de julho de 2013

A Espiritualidade de todos nós 2 : Responsabilidade - Cultura - Gente

Responsabilidade
A Natureza não pensa. Ao menos não como nós, seres humanos. Já nos animais irracionais, há somente um instinto sensível e de percepção da realidade. Mas nós, nós pensamos, e podemos pensar bastante. 
Pensando. Todos os animais e seres vivos, bem como todo céu e terra e mar – dependem muito de nós. Não somos mais fortes e nem controlamos a Natureza. Mas, o cotidiano da existência de tudo que vive e que há no mundo, permanece debaixo de nossas ações e decisões. Às vezes até podemos pensar, mas demoramos ou refletimos pouco tempo quando o assunto é a natureza de todos nós. E as consequências nos atingem. Mesmo que as análises científicas sobrea degradação do meio ambiente e do efeito estufa sejam exageradas – as consequências nos atingem. Dia a dia, semana a semana.
Espíritos racionais como nós, vivendo num corpo físico em um mundo bastante material – precisam assumir a Responsabilidade sobre este mundo. A natureza. A irresponsabilidade natural não apenas nos cobra um dever e nos deixa uma culpa – como um vazio desconhecido.  Mais do que isto. Permanecemos espiritualmente imaturos senão assumimos nossa capacidade gerencial do planeta. Assumir a vida que acontece, vida de todos nós. A irresponsabilidade nesta área da Espiritualidade traz insatisfação interior e nos mantém tolos exteriormente. Não se vive bem assim. Não se vive bem sem Espiritualidade que cuida da Natureza.


A Cultura
A cultura é tudo que criamos a partir da natureza. Recebemos a natureza e formamos uma cultura. Projetamos e desenvolvemos muitas coisas e utensílios a partir do material natural que nos cerca. O trabalho que temos sob nossa responsabilidade deve ser também o prazer da oportunidade em criar e gerar cultura. Trabalho e também prazer que são exclusivamente nossos.
Há o trabalho agrícola e científico, operoso ou mental. Trabalho é trabalho. Talvez a segunda-feira se transforme em oportunidade de vida ao invés de canseira existencial, se a olharmos como momento de Espiritualidade – também. O descanso ajuda muito. Saber que trabalho é cultura ajuda mais ainda.
Mas o melhor é descobrir que nós criamos a cultura – inclusive o trabalho. E neste momento o espírito dentro do nosso corpo vivendo física-espiritualmente neste mundo natural, irá acordar e fazer acontecer. Vida. Vida melhor e mais rica, colorida e sonora, visível e necessária, inteligente e surpreendente. Somente como a cultura pode ser. Vide os Beatles. Ou então, um pomar.
É preciso raciocinar e acrescentar à existência de todos nós a oportunidade de fazer cultura. De segunda a segunda. É esta a pessoa que somos. É assim que vivemos. Cuidemos de aprovar e aproveitar o que nos é possível inventar, e criar. Homens culturais, inclusive trabalhando, são seres Espirituais. E a Espiritualidade é vida.

Gente como a gente
Nenhum homem é uma ilha. A não ser que o seja percebendo outros se achegando e afastando, como as marés que avançam sobre a terra, mas pra constante contato. Pois, sem dúvida, não há Espiritualidade saudável ou real, sem o outro. Sem gente. Não que seja fácil. Mas é necessário. Assim como sair da atividade para o descanso, e assim como escapar do sofá para a natureza – também afastar a solidão pra encontrar o próximo: é essencial.
Essencialmente humano. Portanto, espiritualidade de todos nós.
Não há ânimo ou motivação – nem realização, se não nos relacionarmos com outros humanos. Gente com corpo físico e espírito junto, igual a nós. A sua Espiritualidade não pode prescindir da humanidade. Nem da presença, pois não há vida na constante ausência, mas sim, na perseverança da aproximação. Não apenas para se esquentar ou amar, mas acima de tudo, pra conviver, existir.
Desde a família e parentes, até os colegas da cultura trabalhista e os vizinhos – e importante, os desconhecidos sociais da correria do dia a dia. Não há ninguém que não nos interesse – espiritualmente falando. Não que seja fácil. Mas é necessário. Eis o aprendizado espiritual.

Deixar de ver o outro e não planejar dele se aproximar, se tornará grave engano espiritual à humanidade – com um vazio permanente em nós. Engano que irá nos absorver. Não pra viver. Pelo contrário. Lembre: Espiritualidade é gente como a gente, com a gente. 

domingo, 21 de julho de 2013

A Espiritualidade de todos nós: Racionais - Descanso - Sociais


Somos racionais
Os seres humanos são pessoas que sabem que existem, e se preocupam com isto. Uma preocupação que já revela que somos racionais, pois conscientes de que existimos. São estes os momentos em que lembramos o que vivemos ontem, tentando organizar a vida de hoje, já olhando de relance para o que viveremos amanhã. Enfim, temos consciência de que existimos e, tomara, percebemos que muito mais gente existe deste jeito, assim como nós. 
E reconhecer nossa racionalidade é o primeiro degrau da escadaria saudável da Espiritualidade. Começamos a enxergar quem e o que somos. Gente. Pessoas humanas, racionais, com pensamentos e sentimentos diversos. Vivendo cada instante, de dentro pra fora, e tudo a partir de um corpo físico – que carrega em si muito mais que simplesmente o “físico”. Tomar consciência de quem somos. Eis a primeira verdade e valor da Espiritualidade.
A segunda compreensão – fundamental, é saber que agora que existimos, precisamos prestar atenção para o “como” podemos bem existir. Isto passa pelo entendimento de que nossa vida como pessoas que pensam e sentem, acontece, absolutamente - fisicamente. Portanto, não há vida espiritual sem que cuidemos da vida “física”, tanto de nosso corpo e também do meio ambiente – o planeta. Pois ninguém vai existir sem o “físico”- sem corpo e sem o mundo.
É preciso racionalmente tomar consciência e conscientemente assumir o controle e direção desta nossa realidade existencial fundamental: vivemos “em” um corpo físico e “dentro” de um planeta igualmente material. Portanto, não há Espiritualidade que amadureça sem a compreensão e valor devidos ao corpo e mundo físicos, essenciais a todos nós.
A Espiritualidade da humanidade aparece quando a racionalidade que nos dá consciência da existência – consegue ensinar primeiro, que só existimos espiritualmente, se a vivenciamos fisicamente. Não há espiritualidade saudável, nem razoável sem esta compreensão.



O Descanso
Existimos como pessoas quando vivemos nossa vida mental e emocional fisicamente. E desde sempre eu, você e todos que conhecemos aguardam a chegada do fim de semana – este tempo de descanso “físico” a cada sete dias. Mesmo quando não ocorre aos sábados e domingos, ainda notamos que, de um jeito ou de outro, todos procuramos parar as atividades ao menos uma vez na semana.
Mesmo sem identificar a origem desta “parada semanal”, e mesmo pensando que é mais parte da cultura do que de nossa essência como pessoas, aguardamos - e bem aproveitamos o descanso semanal que todos conhecemos. E faz uma diferença.
Você já tentou trabalhar ou estudar – mantendo atividades sem descanso, por mais de 7 ou até 10 dias? E acima deste tempo, uns 15 dias ou mais? Assim como nos é comum acordar ou somente despertar no mesmo horário dia a dia, mesmo que seja sábado ou domingo; sabemos que após o almoço ou no meio da tarde, surge a necessidade de cochilar ou dormir por, ao menos, umas duas horas. É o “descanso” físico-mental básico que a semana dias vividos exige. Não há como escapar. Uma nova semana que inicia sem um dia de descanso no meio dela irá cobrar de todos nós uma desatenção e desinteresse que tem nome: cansaço existencial. Não somente corporal, pois as emoções e pensamentos caminham junto com o físico nosso de cada dia.
O que importa é perceber que esta “freada” de atividades é uma orientação que tanto reconhece quanto respeita, a nossa espiritualidade. Pois ainda que seja possível manter a saúde física fortalecida através de remédios e treino, isto não nos fornece uma saúde integral – mente, corpo e sentimentos em equilíbrio e saudáveis. Isto ocorre porque a nossa “pessoa” inteira não existe somente fisicamente.  E aqui entra a Espiritualidade – a realidade de que somos pessoas com corpo e alma, exterior e interior, um ser único, que não existe somente num aspecto. Ou vivemos integralmente, ou não vivemos. Daí a necessidade do descanso existencial, que nos trata como seres espirituais – nem somente físico e nem somente sentimentos.
O descanso semanal ensina que somos mais do que enxergamos. O valor da Espiritualidade apresenta e representa um ser mais completo do que imaginamos, e por isso chega mais perto de bem cuidar da nossa vida. Ou cuidamos inteiramente de quem somos ou não cuidamos realmente de nós mesmos.
Bom descanso.



Somos naturais e sociais
Desenvolver uma existência espiritual ou viver a vida com Espiritualidade requer agir racionalmente. O primeiro raciocínio é perceber que existimos, sentindo e pensando num corpo físico. Só lembrando. Somos assim. Nem anjos pensantes sem corpo, nem mulas com corpo sem entendimento. Somos seres humanos – emoções e reflexões que vivem corporalmente. Saber disto é o passo primeiro para viver a vida com Espiritualidade.
Como vivemos tudo que somos fisicamente, quando o corpo não descansa, a mente e os sentimentos sucumbem. E o contrário também. Somos seres espirituais. Tudo junto existindo agora. Portanto, viver a partir da Espiritualidade é também, descansar. Bom descanso.
Descansar espiritualmente é um ato que envolve a natureza física que nos permite viver – este planeta; e as pessoas físico-sentimentais-pensantes que também nos permitem viver. Dependemos de ambos – pra viver. Por isso, direcionar nossa vida a partir da Espiritualidade é acrescer ao nosso cotidiano um descanso existencial semanal que requer aproximação com a natureza e, também com as pessoas. Eis uma Espiritualidade saudável e acessível – e necessária a todos nós.

Um descanso semanal solitário e individualista, e grandemente tecnológico – haja TV, nos afasta tanto da natureza quanto das pessoas. Mas, viver a partir da Espiritualidade exige descansar junto ao planeta terra e aos seres humanos de plantão. Afinal, somos seres naturais e sociais. Física e emocionalmente estamos entrelaçados ao planeta e ao próximo. Ou descansamos cuidando da essência da pessoa que somos ou não há Espiritualidade que aguente. É preciso sair ao mundo e ir ao próximo. 

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Toda autoridade me foi dada nos céus e na terra. Ide, portanto...

Mateus 28.18 - 20

"É importante observar que a Grande Comissão para ir e fazer discípulos de todas as nações tem origem na ressurreição. Somente depois de ter ressuscitado foi que Jesus pôde afirmar sua autoridade universal e exercê-la, enviando seus discípulos ao mundo." (John Stott)

Jesus afirmou sua autoridade sobre o mundo e vida dos homens quando, prestes a subir aos céus já ressurreto, declarou: "Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra."
Jesus já havia recebido um convite para reinar sobre toda a terra, embora o céu estivesse de fora. Foi Satanás, aquele que faz o mundo dos homens perecer no estímulo e governo da rebeldia, quem prometeu a Jesus autoridade terrena se prostrado adorasse ao Anjo rebelde.
Jesus preferiu outro caminho. E após longa caminhada, que durou três anos e o levou a cruz e ao hades, Jesus ressuscitou declarando finalmente: "Foi-me dada toda autoridade nos céus e na terra." É por isso que John Stott afirma que esta declaração e autoridade tem origem na ressurreição - pois somente ali tudo se consumou.
Isto diz muito sobre a autoridade de Jesus e sobre a capacidade que temos de experimenta-la, e também sobre a condição que temos de anuncia-la.

Lembro que há quase dez (10) anos atrás assisti com meu filho de quatro (4) na época, a um desenho antigo de Mickey e companhia - uma mistura de João e o pé de feijão que iniciava no "Vale Feliz". Um vale bonito, todo gramado, cheio de flores, casas adoráveis, animais alegres e uma comunidade feliz. Quando o sol nascia de manhã e ia tomando o vale, íamos conhecendo o vale feliz - cuja felicidade reinava por todo lugar.
Certa manhã o sol não apareceu e o gramado e flores se tornaram cinzas e as casas e árvores se tornaram antigas e animais e pessoas estavam tristes e irritados. Uma espécie de totem "vivo" cantante - feminina, foi retirada pelo gigante João e levada aos céus pelo pé de feijão. O vale feliz se tornou infeliz e a luz foi tomada pelas trevas.
E lá partiram os heróis em busca do totem cantante a fim de trazer alegria e luz e finalmente felicidade ao outrora Vale Feliz.
Os cristãos agem assim muitas vezes. Talvez impressionados com a orientação de Jesus em João, de que assim como Moisés levantou a serpente no deserto para curar, agora o Filho do homem precisa ser exaltado para que o mundo dos homens curado seja; age-se de igual modo - levantando a figura ou até a estátua de Jesus, aqui e acolá, em busca de que vidas e lugares malditos possam ser transformados num piscar de olhos.
Colocar igrejas no centro de cidades ou comunidades, incluir santos ou dizeres à entrada de casas e bem no alto, posicionar placas na entrada das cidades afirmando que Jesus é Senhor e fazer um louvor bem alto pra que se escute de longe a autoridade de Jesus. São muitas as atitudes e rompantes dos cristãos na história tentando curar o mundo e trazer felicidade aos homens - pela mesma estratégia de Mickey e companhia.

Jesus teve um pouco mais de trabalho e somente na RESSURREIÇÃO é que a Autoridade dEle se consumou e alcançou vidas e tantos outros que estas "tocarem". E igualmente os lugares que habitarem. Há um movimento de felicidade em Jesus, há uma luz nas trevas a partir do homem de Nazaré; porém, trata-se de uma caminhada distinta àquela comum aos homens.

A ordem de Jesus para que sua Autoridade chegue ao mundo dos homens passa por três (3) orientações: - os discípulos devem ir...; - batizar em nome do Pai, Filho e Espírito Santo a outros; - ensinando-os a viver conforme Jesus quer. E é aqui que tudo começa clarear.
Jesus sempre viveu do jeito que somente os Ressurretos poderão viver. De acordo com a vontade e princípios de vida de Deus Pai. Inclusive, Jesus ressuscitou exatamente porque sempre viveu a vida na plenitude da vida de Deus, e assim, a morte não pode segurar ou se apossar dEle; pois a vida que Ele viveu é poderosa demais.
Eis a Autoridade experimentada por Jesus e agora declarada ao mundo e céus. Autoridade que pode enfim alcançar outros humanos - pela fé. É a autoridade de VIVER neste mundo como Deus vive! E assim o mundo será por este estilo e tipo de vida dominado, mais e mais.
Os outros homens e todos nós não conseguimos viver debaixo desta autoridade de vida plena como Deus a vive. Todos vivemos o contrário e distantes do que Deus quer. Mas agora, Jesus, o homem, já viveu a  vida do jeito de Deus e pode declarar a autoridade deste estilo de vida sobre a terra - pois aqui Ele a viveu, oferecendo-na a todo homem -  pois como humano a viveu.
A Ressurreição foi o marco final desta Autoridade conquistada. E que propiciou a declaração inicial aos discípulos para que vivessem e anunciassem este destino novo à humanidade.

PRECISAMOS pois, entrar no Reino, experimentar a luz, participar desta novidade de vida, vivenciar as coisas do jeito que Deus vive, abraçar, enfim, outra felicidade e alegria - vivendo e anunciando desde agora, uma AUTORIDADE nova sobre o mundo e a existência dos homens.

É preciso VIVER  os princípios de Deus, como Jesus: dá uma olhada no sermão do monte.
É preciso COMPARTILHAR ao próximo, já ensinando, estes princípios: testemunhe.
Muitos e alguns tantos irão desejar se aproximar "desta" luz. Fazendo perguntas e ouvindo também as respostas. Então chegou a hora do batismo - é preciso uni-los a Deus.
Juntos de Deus, vamos ensinar a viver como Jesus vivia - eis a autoridade que toma corações e mentes até assumir a alma a partir da experiência diária de experimentar a vida pelos princípios de Jesus.
Pronto. Pessoas e lugares irão conhecer esta autoridade enquanto a vivenciamos anunciando de onde vem, já ensinando a outros como a ela ter acesso: iremos batiza-los integrando em relacionamento com Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Vamos indicar o cotidiano como o lugar essencial deste aprendizado vivencial  afim de que muitos vivam, mais e mais, do jeito de Jesus, e de Deus.
É A ÚNICA AUTORIDADE QUE EXISTE. E acontece. O resto é coisa nossa, que irá morrer no pó, sem ressuscitar nada nem ninguém.

ENFIM, há muitos vales infelizes aguardando não que totens ou dizeres, ou cantos ou declarações, ou seja lá o que tivermos de institucional e religioso pra inventar lhes proponha e afirme uma autoridade e felicidade irreais. Não. Há muitos vales infelizes esperando a autoridade de Jesus. Do seu jeito de viver. Uma autoridade que toma corações e mentes. Converte gente pra Deus. Provê uma realidade existencial nova.
Uma Autoridade que será compartilhada quando estes homens viverem deste jeito com outros. Explicando e orientando como Deus está mudando não somente estes, mas também outros - pela fé. Uma vida nova - na autoridade de Jesus, que será anunciada perante vidas e lugares. Não necessariamente transformando vales infelizes em comunidades felizes - mas, certamente, levando paz e esperança certa a uma humanidade perdida - na morte, que desde agora começa a viver experiencias da Ressurreição - e que na RESSURREIÇÃO final, serão vividas total e completamente. Vida de Deus!
Sigamos em frente pois, afinal, a Ressurreição já aconteceu e Jesus também já disse: Toda autoridade me foi dada perante a humanidade. Portanto, vão...

quinta-feira, 21 de março de 2013

A vida profissional do cristão.

     Se Deus criou o mundo e a sociedade dos homens enquanto colônia organizada, os cristãos devem desprezar o pecado, mas jamais a criação e as criaturas. Eis o valor bíblico que orienta cristãos protestantes calvinistas evangélicos na sua vivência com o mundo e a vida que Deus nos dá. Particularmente, nesta reflexão, eis alguns princípios para nortear os cristãos em suas vidas profissionais por todo lugar e momento.

     Robert Knudsen escreve sobre o Calvinismo como uma força cultural e apresenta princípios básicos desta visão cristã de mundo que oportunizaram a influência do protestantismo reformado na sociedade dos homens: "No Calvinismo não há dicotomia entre Cristianismo e Cultura; (...) por causa de sua maneira penetrante de entender a doutrina da criação, a universalidade da revelação divina e o lugar da lei, é impossível ao Calvinismo (...) pensar em termos de uma simples e incondicional distinção entre esferas de atividade divina e humana; (,,,) toda a vida, inclusive a cultura, é teonômica, isto é, tem sentido somente quando está sujeita a Deus e à Sua lei; (...) o poder do Deus-criador-soberano abrange também o curso da história..." (p. 12, O Calvinismo como uma força cultural)

     Abraham Kuyper, teólogo, professor, palestrante, primeiro ministro do parlamento holandês no início do século passado - calvinista, também apresenta princípios estruturais da cosmovisão reformada que orienta toda esfera do mundo como lugar para o cristão servir, e conhecer a Deus: "Ao mesmo tempo o Calvinismo tem dado proeminência ao grande princípio de que há uma graça particular que opera a salvação e também uma graça comum pela qual Deus, mantendo a vida do mundo, suaviza a maldição que repousa sobre ele, suspende seu processo de recuperação, e assim permite o desenvolvimento de nossa vida sem obstáculos, na qual glorifica-se a Deus como Criador (...) Doravante, a maldição não deveria mais repousar sobre o mundo em si, mas sobre aquilo que é pecaminoso nele. Em vez de vôo monástico para fora do mundo é agora enfatizado o dever de servir a Deus no mundo, em cada posição da vida. Louvar a Deus na Igreja e servi-lo no mundo tornou-se o impulso inspirador; na Igreja, deveria ser reunida força para resistir à tentação e ao pecado no mundo." (p. 39, Calvinismo)

     A Bíblia de Genebra também apresenta comentário específico acerca da atuação dos cristãos em nosso mundo, sob título "Os cristãos no mundo", p. 1426: "(...) Os cristãos são enviados por seu Senhor à humanidade decaída para dar testemunho perante ela a respeito do Cristo de Deus e de seu Reino, e para servir em suas necessidades (...) A Bíblia não sanciona nem o recolhimento monástico, nem o mundanismo (...) Os cristãos devem ser diferentes dos que estão ao seu redor, observando princípios morais de Deus, praticando o amor e não perdendo a sua dignidade de portadores da imagem de Deus. (...) Portanto, a tarefa atribuída aos cristãos é tríplice. A principal missão da Igreja é evangelizar (...) Também o amor ao próximo deve levar constantemente o cristão a praticar obras de misericórdia (...) Finalmente, os cristãos são chamados para cumprir sua "missão cultural", que Deus deu à humanidade na criação. A humanidade foi criada para administrar o mundo de Deus, e essa administração é parte da vocação humana em Cristo, tendo por alvo a honra de Deus e o bem dos outros. A "ética do trabalho" protestante é, essencialmente, uma disciplina religiosa, o cumprimento de um "chamamento" divino para administrar a criação de Deus."

     Há diversos textos bíblicos que ensinam os princípios acima expostos. Um dos mais abrangentes está em Colossenses, capítulo 3, verso 18 até cap. 4 verso 6. O título que os tradutores incluíram na bíblia para esta porção é "Responsabilidade Social". Os temas iniciam pela responsabilidade do cristão em família (esposa, marido, filhos e pais), chegando à sociedade comum (servos-empregados e senhores-patrões), culminando no chamado ao constante testemunho cristão que deve ocorrer em todo lugar - um fruto eficaz oriundo da oração, perante os de fora, com sabedoria e palavra agradável. Afinal, os cristãos devem anunciar o "evangelho" às pessoas, e não um juízo legalista farisaico religioso institucional.

     Ou seja, se a "vida" dos cristãos deve acontecer como tal enquanto vivenciam sua existência em  família - tempo no trabalho - tempo perante os de fora da igreja, observa-se que das 24 horas do dia e dos 7 dias da semana; há, sim, muito tempo para "andar" com Deus. A "vida dentro da igreja" é adoração e capacitação - não é serviço e testemunho, nem mesmo experiência cristã no mundo, pois o mundo, está lá fora. Avante, cristãos - rumo à Profissão!

     Os cristãos precisam enxergar - logo, que as 8h ou 10h diárias que dedicam às profissões e estudos afins, são momentos vivenciais fundamentais - tanto para seu amadurecimento espiritual quanto para seu serviço como discípulos de Jesus. A missão cristão rumo ao mundo precisa chegar aos locais de trabalho, mundo econômico e salas de aula. O mundo "profissional" também precisa conhecer o Reino de Deus. E os cristãos precisam conhecer a Deus também em sua vida secular profissional - basta de crentes domingueiros. Aquilo que o homem semear, também irá colher. Impossível semear os valores humanos na semana e colher no domingo - e na eternidade, os valores do Reino de Deus. O tempo deste engano já passou.

     Os cristãos precisam assumir o testemunho - e suas decorrentes provações e bençãos cristãs, também na vida profissional. É preciso ser sal da terra e luz do mundo a fim de que o "reinado" de Deus apareça e as pessoas descubram que Ele é bom e vive no mundo. Isto requer cristãos "bem-aventurados", também enquanto exercem suas profissões durante a semana, ou fins de semana.
     Somente os pobres de espírito poderão receber a riqueza do Reino dos céus. Portanto, é preciso se humilhar sendo pobre vivencial a fim de que o Senhor nos enriqueça ensinando como devemos viver neste mundo. Após aprender o jeito como Deus vive, iremos chorar pelo jeito como vivemos e pela falta do jeito d`Ele em nosso meio. Mas, esta busca vale a pena porque seremos consolados. Pra aprender o jeito de Deus viver precisamos ser os bem-aventurados mansos, que se permitem ser conduzidos pelo Senhor e assim recebem d´Ele a terra por herança. E assim seguem as demais bem-aventuranças, uma consequente e dependente à experiencia da outra.
     São bem-aventuranças que não devem ser buscadas apenas no domingo igrejeiro, mas, fundamentalmente, precisam ser "lutadas" na vida profissional de cada um de nós. Somente assim Deus irá aparecer no mundo do trabalho e economia, pois seremos aprendizes constantes de Jesus em uma vivência cristã que nos acompanhará e poderá iluminar todo lugar que estivermos.
     A provação irá aumentar se quisermos viver nossas vidas profissionais à luz da Bíblia. Mas nosso relacionamento com Deus será facilitado pela coerência de buscarmos agir sempre a partir de uma só verdade - cristã; junto ainda, de um testemunho novo acerca de Deus Pai, pois será igualmente ministrado durante toda a semana - não apenas no domingo.
     Avante cristãos - rumo à profissão.


ESTUDO DEVOCIONAL

Avante cristãos, rumo à profissão!
Texto Bíblico: Colossenses 3.18 até 4.6
Introdução:

     O título que os tradutores incluíram na bíblia para esta porção (Col 3) é "Responsabilidade Social". Os temas iniciam pela responsabilidade do cristão em família, chegando à sociedade comum trabalhista, culminando no chamado ao testemunho cristão que deve ocorrer em todo lugar e perante os de fora, com sabedoria e palavra agradável - um fruto eficaz oriundo da oração.
     Portanto, a "vida" dos cristãos deve acontecer como tal enquanto vivenciam seu tempo em  família - tempo no trabalho - tempo perante os de fora da igreja, ensinando que nossa oportunidade de "andar" com Deus ultrapassa os fins de semana e avança semana adentro, 7 dias por semana. A "vida dentro da igreja" é a adoração e capacitação para sermos sal da terra e luz do mundo.
Teologia:
     Robert Knudsen escreve sobre o Calvinismo como uma força cultural: "No Calvinismo não há dicotomia entre Cristianismo e Cultura; (...) por causa de sua maneira penetrante de entender a doutrina da criação, a universalidade da revelação divina e o lugar da lei, é impossível ao Calvinismo (...) pensar em termos de uma simples e incondicional distinção entre esferas de atividade divina e humana; (,,,)" (p. 12, O Calvinismo como uma força cultural, edit cult cristã)


     Abraham Kuyper, teólogo calvinista e primeiro ministro do parlamento holandês no início do século passado, apresenta princípios estruturais da cosmovisão reformada: "Ao mesmo tempo o Calvinismo tem dado proeminência ao grande princípio de que há uma graça particular que opera a salvação e também uma graça comum (...) Doravante, a maldição não deveria mais repousar sobre o mundo em si, mas sobre aquilo que é pecaminoso nele. Em vez de vôo monástico para fora do mundo é agora enfatizado o dever de servir a Deus no mundo, em cada posição da vida. Louvar a Deus na Igreja e servi-lo no mundo tornou-se o impulso inspirador; na Igreja, deveria ser reunida força para resistir à tentação e ao pecado no mundo." (p. 39, Calvinismo)
Comentário:
     A missão cristã neste mundo precisa chegar aos locais de trabalho, ação política e salas de aula. O mundo "profissional" também precisa conhecer o Reino de Deus. E os cristãos precisam conhecer a Deus também em sua vida secular profissional. Aquilo que o homem semear, também irá colher. Impossível semear os valores humanos na semana e colher no domingo - e na eternidade, os valores do Reino de Deus. O tempo deste engano já passou.
PERGUNTA:
     Você sente dificuldades de coerência pessoal e perante os de fora quando se dedica mais ao cristianismo "dentro da igreja" do que em todo tempo e lugar? Você sente dificuldades de coerência em sua alma e seu relacionamento com Deus quando é "bom" na igreja e "normal" no mundo? Você já pensou que não conseguiria servir a Deus e crescer como cristão, se permanecesse "trabalhando" no mundo?
Comentário:
     Os cristãos precisam assumir o testemunho - e suas decorrentes provações e bençãos cristãs, também na vida profissional. É preciso ser sal da terra e luz do mundo a fim de que o "reinado" de Deus apareça e as pessoas descubram que Ele é bom e existe no planeta. Isto requer cristãos "bem-aventurados", também enquanto exercem suas profissões durante a semana, ou fins de semana.
     As bem-aventuranças são as virtudes de caráter que nos ensinam a "viver" como Deus e também se apresentam como os valores que irão iluminar e salgar o mundo, conforme Mateus 5. São atos de testemunho cristão que irão aumentar nossa provação - se quisermos viver nossa vida profissional à luz da Bíblia. Mas nosso relacionamento com Deus será facilitado pela coerência de buscarmos agir sempre da mesma maneira, semeando o espírito e não a natureza humana.
PERGUNTA:
     Você já tentou levar para sua vida profissional valores cristãos? Você definiu ou pensa em definir sua vocação profissional à luz de valores cristãos? Você se sente fraco e bem orientado ou capaz de atuar na vida profissional com satisfação e fé?
ORAÇÃO FINAL





   

quarta-feira, 13 de março de 2013

As paixões humanas e os desejos do cristão.

     As paixões humanas de todos nós são bem conhecidas: filmes e tv, esportes e lazer, jornais e revistas, churrascos e praia, amigos e namoros, casamento e familiares, igreja e filosofias, trabalho e dinheiro, ócio e descanso, etc e etc, e etecetera. A lista vai longe. Tão longe quanto tudo que iremos ver e vivenciar nos quase 300 dias que restam no ano, e que também viveremos nos anos que ainda virão. Haja paixão!

     Em meio a tantas humanas paixões, que acompanham igualmente todos os seres humanos; surgem também, os desejos do cristão. Pois o cristão também convive com os filmes e o lazer, com os jornais e a praia, com os namoros e o casamento, com o dinheiro e o descanso, e etc e etc. Enfim, o que se percebe é que as paixões comuns à humanidade também se tornam desejos comuns aos cristãos - uma aproximação de interesses que muito preocupa o povo de Deus. 

     Portanto, já que as paixões humanas movem os desejos do cristão, resta ponderar alguns princípios e possibilidades a fim de que esta realidade existencial dos humanos cristãos se encaminhe por rumos saudáveis e equilibrados a todos que desejam viver a vida com fé em Jesus. 
     O primeiro principio é que as paixões "proibidas" não são os sentimentos e interesses humanos, mas sim, de um lado - as paixões "carnais pecaminosas", e de outro - as "paixões". Não, não é tudo a mesma coisa. 

     Aprendendo com Deus a partir de seu ensino fundamental - Bíblia, atentamos para algumas "paixões carnais pecaminosas" - e portanto proibidas, conforme a carta de Paulo aos Gálatas, cap 5, versos 19 a 21: "Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus." 
     Dentre tantas outras, são estas algumas das paixões possíveis aos homens que nos impedem tanto se aproximar de Deus quanto junto d`Ele permanecer - o que torna a vida atual insuportável e a vida eterna uma maldição, pois é "vida" sem Deus.  

     Neste sentido, quando os interesses de nosso coração e alma surgem desejando intimidade sexual legítima, mas se tornam imoralidade sensual; é que vivenciamos as tais paixões carnais pecaminosas - que não produzem vida (e eterna), mas destruição (Gálatas 6.8). É o princípio da colheita, pois o que for semeado iremos colher. Portanto, sempre que um interesse ou paixão comum aos homens se transformar em um sentimento ou prática contrários ao caráter de Deus; morremos - na alma hoje e depois tudo junto, no corpo também. 

     No entanto, e aí vêm o segundo princípio, sabemos que o cristão também tem as paixões humanas e os desejos de todo mundo. Porém, inicialmente, o problema não é este. Mas sim, a direção e vivência com que iremos experimentar os interesses de todos nós. Qualquer ser humano irá experimentar as paixões que tem e os interesses que busca, conforme as possibilidades que se apresentam e segundo os ganhos e satisfação que se alcança. Neste processo, a imoralidade pode ser somente um valor cultural e a idolatria será ensino meramente religioso, e os ciúmes são normais e a embriaguez faz parte do cotidiano. "Deixa a vida me levar...".
     Não será assim entre os cristãos.

     Diante do desejo de intimidade o cristão irá prescrutar a experiência da imoralidade. Perante o ato de adoração o cristão irá atentar para a possibilidade da idolatria. Conforme o coração reage na emoção o cristão irá prestar atenção ao surgir de egoísmos e dissensão. E destas experiências, irá o cristão se afastar. 
     O segundo princípio, então, ensina a realidade de paixões humanas que são igualmente desejos do cristão, porém; tornam-se sentimentos e experiências viáveis somente a partir da orientação da Palavra de Deus. É a partir disto que o interesse sensual e o desejo sexual poderão, abençoadoramente, gerar intimidade relacional e dedicação personal moralmente edificadoras na experiência dos cristãos. Eis a paixão humana que se tornou desejo cristão redundando em experiência abençoada de satisfação. 

     Finalmente, percebe-se que a satisfação da vida dos cristãos está no temor que faz buscar o que Deus orienta e faz afastar o que Deus proibe. Mas o problema não está nas paixões ou interesses humanos, e sim, nas "paixões carnais pecaminosas" - algo bem diferente. 
     O caminho da (boa) satisfação dos interesses e desejos dos cristãos, depende portanto, tanto do conhecimento da Palavra de Deus quanto do temor à presença do Espírito Santo. Precisamos atentar e logo perceber quando nos afastamos da prática da Palavra de Deus e também quando nos afastamos da presença do Espírito Santo. Pois são estas as maneiras, racional e experiencial, pela qual Deus nos ensina a viver junto d`Ele; ou "morrer" d´Ele distante. 

     Outro princípio a ser estudado é quando os interesses e desejos não são contrários a Deus - como o são as paixões carnais pecaminosas, mas, no entanto, se tornam corrompidos ao se tornarem "paixões" incontroláveis - ou seja, interesses desorientados não em seu princípio de orientação, mas em sua vivência de desequilíbrio. Eis para nós, um próximo tema. 

     Por ora, não devemos fugir dos interesses e paixões humanas de toda nossa raça, mas sim, aprender e apreender a reconhecer no estudo da Palavra e na vivência com o Espírito Santo; quando é que estamos nos distanciando dos (bons) propósitos de vida satisfatória que Deus tem para toda a humanidade - realização que consuma eficazmente na vida dos cristãos. 
     
   

   

   

     

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Cristianismo e Cultura: The Beatles e Walt Disney


Cristianismo e Cultura: The Beatles e Walt Disney

   Outro dia recebi amigos cristãos em casa e quando viram livro e revistas de música, especificamente acerca dos The Beatles, franziram o rosto e perguntaram se seria certo ouvir músicas não cristãs, e ainda, de grupo cujo líder disse que a religião iria acabar e que eram eles maiores que o próprio Jesus. Interessante!

   O fato é que a cultura, especialmente a musical, do homem é um dom de Deus. Eis uma verdade bíblica compreendida por João Calvino, teólogo mor da Igreja Protestante Reformada - grupo doutrinário a que pertence a Igreja Presbiteriana. Foi a Graça Comum de Deus Pai, ofertada aos homens para existirem à imagem e semelhança de Deus, que propiciou e provê à humanidade o raciocínio e a poesia que observam o mundo e tanto o retratam quanto nele edificam a fim de bem enriquecer os relacionamentos da sociedade humana.

   Neste sentido, The Beatles não devem ser analisados, e condenados, a partir da perspectiva de não serem cristãos; pois a cultura dos homens, mesmo que não cristã, também é potencial divino à humanidade. Exerce-la, portanto, não se faz pecado em si mesma. E muito importa este entendimento da capacidade criativa do homem, pois trata-se da extensão de seu ser individual e social. Portanto, tanto seus atos filosóficos-científicos quanto artísticos não podem ser a priori um motivo de condenação pelo cristianismo; pois o pecado não está em sua existência - talvez em sua mensagem.
   Isto posto, importa agora desenvolver pouco mais o raciocínio. Mesmo, ainda, que a própria mensagem venha a se reconhecer, de alguma maneira, contrária a Deus - não se pode condenar totalitariamente um homem ou cultura por um só ato. Não se deve analisar e julgar ninguém como se não houvesse o momento seguinte ou o amanhã para que este mesmo ser ou movimento viesse, igualmente, propor ou pensar algo digno dos valores de Deus. Tendo os The Beatles como exemplo, vide a famosa música "All you need is love", em que o título já diz tudo e também, a "revolucionária" Revolution, na qual John Lennon canta que os homens não devem se envolver em brigas e guerras mas sim, devem mudar suas mentes primeiro. Ora, vejam só. Enfim, a doutrina cristã da Graça Comum que reconhece o potencial divino à humanidade que gera cultura diversa, requer também sua consequência: o reconhecimento das benesses e do valor decorrentes da cultura humana na vida de todos nós. O princípio valoriza a criação dos homens mesmo quando não sejam estes atos decorrentes da mensagem de redenção do cristianismo.

   Este princípio geral de entendimento acerca da cultura humana de todos nós, aliado ao princípio cristão de não julgar para não ser julgado, deveria nos fazer atentar para os homens e cultura não cristãos de maneira distinta à visão evangélico-legalista comum. Recordo que alguns anos atrás, havia um pastor evangélico e até "apóstolo?", que lançou campanha contra Walt Disney afirmando até que os desenhos traziam mensagens espirituais e místicas malignas. Ignorância. Walt Elias Disney (1901-66), o fundador, tinha princípios protestantes e seus desenhos mais famosos difundiram os princípios cristãos do bem e do mal - apresentando-os bem distintos e contrários entre si. Certamente, os desenhos não apresentam Jesus ou a Graça especial de Deus que irá ressuscitar todo aquele que nEle crer. Mas, são desenhos que podem (e devem) ser apresentados às crianças a fim de que elas reconheçam que o mundo é luz e trevas, e não cinza como pretendem os místicos pluralistas de plantão.

   Especificamente, os cristãos C S Lewis, que escreveu Crônicas de Nárnia, e J R R Tolkien, escritor da série Senhor dos Anéis, compuseram estas obras a fim de que sua geração de crianças e jovens obtivessem os valores cristãos da existência do bem e mal, certo e errado, transcendencia e juízo, coragem e sacrifício. Princípios que estavam se perdendo na Europa à época - e que atualmente se perderam grandemente; embora os filmes estejam aí pra tentar recuperar esta perspectiva cristã básica acerca da existência humana.

   Enfim, sempre que The Beatles ou Walt Disney, em sua capacidade dada via Graça Comum desenvolvem uma cultura de princípios que distinguem bem e mal, amor e maldade; e sempre que autores cristãos em sua sabedoria da Graça Especial pensam livros para o mundo todo no propósito de ensinar valores dignos de Deus - estamos diante de uma cultura dos homens que não requer ser condenada, mas sim, experimentada e analisada, a fim de que se retenha o que é bom - de Deus. Seja o Deus da Graça especial ou ainda o Deus da Graça comum - que é o mesmo e único Deus Pai. Give peace a chance!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

As Institutas de João Calvino / Faculdade Presbiteriana


     Neste primeiro semestre de 2013 iremos estudar a disciplina As Institutas de João Calvino na Faculdade Presbiteriana Fatesul, localizada no bairro Tarumã, Igreja Presbiteriana.
     É possível participar como aluno ouvinte e também aluno de somente uma ou mais disciplinas, estudando a Palavra de Deus para mais perto de Deus estar e mais produtivo na sociedade atuar.
     As aulas iniciam no dia 25 de fevereiro e será possível acessar o material de estudo destas matérias neste blog. Bom estudo!
     Abraços, prof Ivan Ruppell Jr.


     AS INSTITUTAS DE JOÃO CALVINO - AULA 1/2 - Material de apoio

     "João Calvino nasceu em Noyon, a nordeste de Paris, em 1509. Educado na Universidade de Paris, dominada pelo pensamento escolástico, ele transferiu-se mais tarde para a Universidade de Orleans, de tendências mais humanistas, na qual estudou o Direito Civil. Embora, a princípio, se inclinasse para a carreira acadêmica, passou por uma experiência de conversão, por volta dos vinte e cinco anos, que o levou a tornar-se cada mais ligado aos movimentos de reforma em Paris, obrigando-o, posteriormente, a exilar-se na Basiléia.
     A segunda geração de reformadores tinha uma consciência muito maior que a anterior a respeito da necessidade de obras que tratassem da teologia sistemática. João Calvino, a grande figura do segundo período da Reforma, percebeu a necessidade de produzir uma obra que introduzisse, de forma clara, os fundamentos da teologia evangélica, justificando-os com base nas Escrituras e defendendo-os da crítica católica.
     Ele, em 1536, publicou uma pequena obra, com apenas seis capítulos, intitulada "As institutas da religião cristã". João Calvino, nos vinte e cinco anos posteriores, mexeu nessa obra, adicionando-lhe outros capítulos e reorganizando o material. À época de sua última edição (1559), a obra tinha oitenta capítulos e subdividia-se em quatro livros.
     O primeiro livro, tratava de Deus criador e de sua soberania em relação àquilo que havia criado.
     O segundo livro, trata da necessidade de salvação do ser humano e de como alcançar essa redenção por meio de Cristo, o mediador
     O terceiro livro, trata da maneira pela qual o ser humano se apropria dessa redenção, (...)
     Enquanto o último livro trata da igreja e de seu relacionamento com a sociedade.
     Embora, com frequência, insinue-se que a predestinação ocupe lugar central no sistema desenvolvido por João Calvino, isso não corresponde à verdade; o único princípio que parece nortear a forma como ele organizou seu sistema teológico é, por um lado, a preocupação de ser fiel às Escrituras e, por outro lado, a obtenção de máxima clareza na apresentação dos temas."
     (Alister E MCGrath - Teologia sistemática, histórica e filosófica - pág 103)

     "A obra de João Calvino, As institutas da religião cristã, tem sua origem na ala reformada da Reforma Protestante. A primeira edição, publicada em março de 1536, seguiu o modelo do "Catecismo menor" de Martinho Lutero, de 1529. Tanto sua estrutura quanto seu conteúdo indicam a dimensão com que João Calvino inspirou-se nessa grande obra educacional do reformador alemão antecedente (...)
     João Calvino, escreveu: "Meu objetivo nessa obra é preparar e treinar estudantes de teologia para o estudo da Palavra de Deus, para que possam ter um fácil ingresso no estudo dessa palavra e sejam capazes de lhe dar continuidade sem obstáculos".
     Em outras palavras, o livro pretende ser um guia para o estudo das Escrituras, funcionando como guia e comentário a respeito da profundidade de seus significados, que eram normalmente elaborados e complexos."
     (Teologia sistem, hist e filosof - p 111)
QUESTÃO AOS ALUNOS: Escreva 2 parágrafos acerca do formato e conteúdo do Catecismo menor de Martinho Lutero?

     "Uma nova preocupação com o método. Reformadores como Martinho Lutero e João Calvino tiveram um interesse relativamente pequeno em relação ao método. Para eles, a teologia voltava-se, sobretudo, à explicação das Escrituras.
     Na verdade, As institutas, de João Calvino, podem ser consideradas como uma obra de "teologia bíblica", que reunia as idéias básicas das Escrituras com uma apresentação sistemática. Entretanto, nos escritos de Teodoro de Beza, o sucessor de João Calvino na direção da Academia de Genebra (uma organização que treinava pastores em toda a Europa), pode ser vista uma nova preocupação com as questões metodológicas, (...) A organização lógica do material e sua fundamentação em pressupostos assumiram uma importância extraordinária."
     (página 115)
QUESTÃO AOS ALUNOS: Pesquise no livro, Teologia sistemática, histórica e filosófica - de Alister McGrath, na página 115, o significado da expressão "questões metodológicas"?

     "Não deixa de ser interessante o fato de que Calvino na medida em que escrevia os seus comentários da Bíblia, ampliava a sua Instituição da Religião Cristã - "obra prima da teologia protestante" - como resultado do seu aprofundamento bíblico, tendo em vista também os novos questionamentos de seu tempo. Neste sentido a sua teologia foi uma obra apologética, como, na realidade, deve ser toda a teologia.
     Aliás, a sua teologia nada mais era do que um esforço por comentar as Escrituras, por isso sua obra pode ser corretamente chamada de uma "teologia bíblica", certamente escrita por um teólogo sistemático que tão bem sabia se valer dos recursos da exegese e da hermenêutica, dispondo tudo isso de forma erudita e devocional. Por isso a história dos Comentários Bíblicos de Calvino e das sucessivas edições das Institutas se confundem e se completam. A sua exegese era teologicamente orientada e a sua teologia estava amparada em uma sólida exegese bíblica."
     (Herminsten Maia Pereira da Costa - Raízes da Teologia Contemporânea - páginas 142 e 143)



     AS INSTITUTAS DE JOÃO CALVINO - AULA 3 - Material de apoio


     Enquanto exposição da Verdade de Deus revelada na Bíblia, a obra As Institutas da Religião Cristã apresentam inicialmente o tema do conhecimento de Deus e do homem, os quais são relevantes à realidade humana dentro da reflexão calvinista. Neste processo o raciocínio do autor observa a razão da vida do homem a partir de uma vivência somente debaixo da vontade e dos desígnios de Deus. Quando a humanidade não permanece na presença de Deus nem na prática de seus princípios e na busca de desenvolver seus propósitos, se perde em grave engano existencial. Glória a Deus somente!
     Desenvolvendo este aspecto - Soli Deo Gloria, enquanto o tema orientador da exposição da verdade de Deus, Calvino irá escrever sua obra de teologia organizada a partir da escrita de 4 (quatro) livros, os quais compõe a edição definitiva das Institutas (1559).
     Primordialmente, já o primeiro assunto do Livro I, procura visualizar toda a percepção humana válida a partir de uma percepção primeira oriunda da Pessoa de Deus, o Criador: "A sabedoria verdadeira e substancial consiste quase inteiramente em duas coisas: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos." (Calvino, 1984, p 23).
     Ao propor certa singularidade ao ser humano, enquanto tanto o que deve ser conhecido como também aquele que irá conhecer a Deus, Calvino não retira de Deus a centralidade ou Glória. Ao contrário! A compreensão de quem realmente somos nasce exatamente do encontro primordial com Deus, junto de sua Criação ou Palavra revelada, pois, somente a partir daí apreendemos nossa verdadeira realidade - a de que somos seres humanos e criaturas de Deus.
     Esta realidade primeira de nossa existência - criaturas de Deus, define a possibilidade que temos acerca do conhecimento de Deus e de nós mesmos; pois somente o conheceremos além desta limitação de criaturas, exatamente a partir do que Ele mesmo desejar nos revelar - somos dependentes d´Ele: "Calvino insiste que a verdadeira sabedoria se encontra no conhecimento de Deus e de nós mesmos; é através do reconhecimento da nossa condição de pecadores que descobrimos que Deus é nosso Redentor." (2004, p 11 - A vida de João Calvino, A McGrath)
     Portanto, ultrapassar este olhar limitado de nossa humana natureza e enfim encontrar mais clara realidade acerca do Criador, somente será possível segundo determinação própria de Deus. Em consequência, surge a necessidade da mediação de Jesus Cristo para que a ação do Espírito Santo ilumine o homem. Eis o projeto essencial da "religião" - religação cristã que será terma de descrição no tópico: a ação de Deus enquanto salvador do homem. Somente apos ser iluminado pelo agir de Deus em sua mente e coração, e assim capacitado a compreender a Palavra divina bíblica pela Graça, é que o homem terá real conhecimento da Pessoa de Deus e das verdades que Ele assim nos quiser ensinar.
     Esta mediação de Cristo que irá livrar o homem de seu estado alienado de Deus é a religação - religião, do homem a Deus que Calvino desenvolve em seu livro segundo; em que nos faz conhecer a obra do Senhor como Redentor dos homens.
     TEXTO do prof Ivan - Doutrinas e Conceitos Teológicos Calvinistas - As Institutas


     Material de APOIO

     Deliberação humana e Providência Divina em Genebra.
     "Fé na providência", disse H.R. Mackintosh no início de suas conferencias sobre o assunto, "é um outro termo para religião pessoal. A ausência dela é um sinal de falta de religião pessoal." "Não é por acidente", escreveu Barth, "que a Reforma, com sua redescoberta da suficiência total da Pessoa e da Obra de Jesus Cristo, e da verdadeira adoração a ele por parte do homem pecador que pode se apegar à graça de Deus, e somente a ela, trouxe com ela, manifestadamente em todos os grandes representantes, Calvino não menos que Zuínglio e Zuínglio não menos que Lutero, um tipo de renascimento da fé cristã na Providência." Os escritos teológicos de Calvino sobre a questão da providência podem frequentemente ser lidos como um testemunho pessoal da fé que o sustentou na obra da sua vida. Ele continuamente encontrava conforto no fato de que "o Senhor tem todas as coisas em seu poder, controladas por sua sabedoria e que absolutamente nada pode acontecer que já não esteja ordenado... de maneira que nem o fogo, nem a água, nem a espada podem causar algum dano... exceto quando Deus, em sua infinita sabedoria, permitir que isso aconteça". (...)
     (...) Embora escrevesse com tanta certeza sobre o assunto, Calvino não sugeria que seria fácil para nós nem ficarmos firmes nem mantermos nossa fé na providência como ele a descreve para nós. Seremos tentados à perplexidade "quando o céu ficar coberto por densas nuvens". (...)
     (...) Contudo, a "providência de Deus como claramente exposta não ata nossas mãos", escreve Calvino. Ele destaca o elemento paradoxal na experiência daqueles que se sentem chamados por Deus para o seu serviço. Ainda que o "homem piedoso compreenda que é constituído como um instrumento da divina providência... ele cinge-se com entusiasmo porque está persuadido de que suas dores não são airosamente jogadas ao acaso. Na verdade, mesmo que "resultado de todas as coisas esteja escondido de nós, todos devemos aplicarmo-nos em sua causa, como se nada estivesse determinado sobre nada". Mesmo que saibamos que o resultado e a responsabilidade final por alcançarmos qualquer coisa está na mente e nas mãos de Deus, sentimos como que constrangidos e profundamente envolvidos numa aventura, como se também fôssemos responsáveis pelo seu sucesso ou por sua falha (...)
     (...) A confrontar o eleito com suas necessidades de tomar decisões, Deus parece investi-lo com sua própria liberdade e deixar sobre ele o ônus de usar todos os meios possíveis para que possa atingir seus alvos. A providência de Deus não isenta ninguém de ser prudente. "A providência de Deus nem sempre nos encontra em sua forma nua, mas Deus, num certo sentido, veste-a com os meios empregados." Contudo, "não devemos negligenciar as ajudas que podem ser legitimamente empregadas (...) Portanto, ele percebia que, na sua tentativa de ser vitorioso em Genebra, precisava ser tão sábio quanto uma serpente, enquanto tentava, ao mesmo tempo, ser humilde como uma pomba."
     (Calvino, Genebra e a Refoma - páginas 213 a 216, o Homem e sua Teologia; Ronald Wallace)


     Material de APOIO
     A Soberania de Deus, texto prof Ivan
     "Reconhecer que Deus é Soberano sobre todo o Universo e ser vivo, requer atentemos aos atos d´Ele em toda a Criação - Deus enquanto Criador de tudo; Deus enquanto Governador de tudo; e, Deus enquanto Redentor - salvando a criação do pecado. De tal forma que render-se à Soberania de Deus prescinde que conheçamos melhor o Criador em suas obras perante todas as coisas e seres.
     "A sabedoria verdadeira e substancial consiste quase inteiramente em duas coisas: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos" (Calvino, 1984, p 23). O método filosófico de Calvino a fim de que adquira conhecimento do homem e da criação origina em Deus - a partir d´Ele recebe o homem a definição de sua crença na existência do Deus vivo e criador. Trata-se de uma resposta bastante lógica e compreensível e, que faz-se norma ao raciocínio do renomado reformador. Afinal, em quê ou quem irá ele buscar parâmetros de conhecimento da realidade toda do mundo, senão perante Aquele que, cremos, tudo fez e todas coisas trouxe à existência (...)
     - continua , Material de Apoio.



     AS INSTITUTAS - AULA 5, Material de Apoio

     A mediação de Cristo livra o homem de sua alienação de Deus, religando-nos ao Criador em obra do Senhor Redentor, conforme irá desenvolver Calvino no segundo livro. Trata-se de revelar a realidade de quem somos e de como podemos conhecer a Deus, em ensino que recebemos do próprio Senhor. Por isso, um real conhecimento da pessoa de Deus e a oportunidade de uma existência humana satisfatória e verdadeira para com a vontade original do Criador - são um propósito e também uma realização divina na vida dos homens. Pois é o próprio Senhor Deus que visita o homem para revelar quão distante se encontra dos céus e também para promover reconciliação entre terra e céus, humanidade e Deus Pai.

     Esta visita e aproximação de Deus aos homens realizando obra de recuperação - reconciliação da humanidade à Pessoa divina, revela tanto o valor do homem quanto o caráter do Senhor. Deus é um humanista, e assim devem ser os cristãos: "O humanismo de Calvino, no entanto, não deve ser confundido com o "humanismo secular", que colocava o homem como centro de todas as coisas. Calvino rejeitava este tipo de "humanismo". Na sua obra Magna, A Instituição da Religião Cristã, Calvino expressa sua concepção "humanista", que consiste em reconhecer a grandeza do homem, como criatura de Deus, a Quem deve adorar e glorificar." (Herminsten, 2004, p. 97)

     É assim que a legitimidade do homem no conhecimento de Deus e de si mesmo encontra sua base de real entendimento: em Deus somente. Pois é de Deus a boa iniciativa e d´Ele a verdade acerca do que de real se pode conhecer - tanto do homem quanto de Deus. O conhecimento verdadeiro de Deus e de suas obras, inclusive o homem criado; jamais é verdade e sabedoria que o homem obtém a partir de si próprio. Este é um processo que requer submissão do homem a Deus, para que então se inicie o vislumbre do conhecimento acerca do Senhor Criador que os seres humanos podem obter - e especialmente, conhecimento acerca de si mesmos.
     A expressão "dar Glória a Deus" surge desta experiência: quando o homem apreende conhecimento que lhe propicia vivenciar experiências vivenciais; porém, reconhecendo que o entendimento ao conhecimento foi alcançado a partir de sua submissão e fé em Deus. Por isso, um conhecimento agora apreendido e tornado "do homem", e que afirma dele saber somente pela providência divina: Glória a Deus, portanto.
     Assim se diz, enfim, acerca da Redenção e Salvação dos homens: Glória a Deus! Pois posto que a manifestação desta realidade aos seres humanos é obra divina, mesmo quando dela temos conhecimento e grande experiência; sua origem e governo em nós é Obra suprema do Deus Redentor sobre os homens. Glória a Deus, pois.

     Os livros seguintes, III e IV das Institutas, permanecem desenvolvendo (..) (*continua)

     Texto, prof Ivan S Ruppell Jr

   



 MATERIAL DE APOIO / TEXTOS - Disciplina Institutas de João Calvino



João Calvino e a teologia missionária


Fora da igreja e entre estudiosos, para a surpresa de muitos que estão dentro da igreja, João Calvino frequentemente é visto com bons olhos. O gênio marxista, Leon Trotsky, que ajudou Lenin a criar a União Soviética a partir da Revolução Russa de 1917, afirmou que Karl Marx e João Calvino eram os dois maiores revolucionários em toda a história do Ocidente. Mas popularmente é comum depreciar a contribuição de Calvino, inclusive dentro da igreja, especialmente no que se trata da obra missionária. Não é raro pensar que João Calvino e o movimento que ele gerou não se interessaram pela obra missionária e pouco contribuiram para a reflexão missiológica hoje.
No início do século, o historiador da missão da igreja, o alemão Gustav Werneck, por exemplo, afirmou: “nós perdemos com os Reformadores não apenas a ação missionária, mas mesmo a ideia de missões… [em parte] porque perspectivas teológicas fundamentais deles evitaram que dessem a suas atividades, e mesmo a seus pensamentos, uma direção missionária”1.
Entretanto, muito pelo contrário e mesmo com toda a preocupação pela reforma da igreja na Europa, João Calvino contribuiu não só para o movimento missionário em si como também para a reflexão missionária que nutre o bom empenho missionário até os dias de hoje. Ele enviou centenas de missionários por toda a Europa e até ao Brasil. Não é um exagero atribuir-lhe o título de “pai da pensamento missionário protestante”.
Hoje queremos considerar a contribuição de João Calvino para a teologia de missão. No próximo artigo veremos a sua contribuição à ação missionária.
A teologia de missão
João Calvino não escreveu nenhuma “teologia de missão” ou reflexão a respeito da “missão” de Deus ou a “missão” da igreja. E nem podia. Afinal de contas até o século 16, a palavra “missão” era reservada para se referir à relação da trindade: a missão do Filho como o enviado do Pai e a missão do Espírito Santo como o enviado do Filho e do Pai2. Mas muito mais importante que isto, Calvino estabeleceu as bases bíblicas e teológicas para falar do papel da igreja na transformação da sociedade, e não apenas em termos locais, mas também em termos globais.
1.  “Missio Dei et missio Christi”. Fundamentalmente Calvino estabeleceu a base cristocêntrica e teocêntrica da missão. E deu forte apoio à evangelização através dos seus comentários. Calvino entendeu que, por meio de Cristo, Deus está atualmente reinando no nosso mundo. Veja, por exemplo, alguns dos seus comentários da Bíblia:
a) acerca de Isaías 2.4:
“a diferença entre o Reino de Davi, que era apenas uma sombra, e este outro Reino ... [é que] ... pela vinda de Cristo, [Deus] começou a reinar … na pessoa de seu Filho unigênito”.
b) acerca de Isaías 12.4-5:
“Esta exortação, pela qual os judeus testemunharam a sua gratidão, deve ser considerada o percursor da proclamação do evangelho, que depois seguiu na ordem certa. Como os judeus proclamaram entre os medos e os persas, e as outras nações vizinhas, o favor que era demonstrado para eles, assim, quando Cristo se manifestou, eles deveriam ter sido arautos para ressoar em alta voz o nome de Deus através de cada país do mundo. Portanto, é evidente qual seja o desejo que deve ser o tesouro de todos os piedosos. É que a bondade de Deus seja conhecida por todo e que todos se reunam no mesmo culto a Deus. Nós devemos ser especialmente possuídos deste desejo, depois de sermos libertos de algum perigo alarmante, e acima de tudo, depois de ter sido libertos da tirania do diabo e da morte eterna”.
c) acerca do Salmo 22.8:
“esta passagem, não tenho dúvidas, concorda com muitas outras profecias que representam o trono de Deus erguido, no qual Cristo pode assentar-se para comandar e governar o mundo”.
d) acerca de Miqueias 2.1-4:
“O reino de Cristo somente se iniciou no mundo quando Deus mandou que o evangelho fosse proclamado em todo lugar e... hoje o seu curso ainda não se completou”.
e) acerca de Ezequiel 18.23:
“Deus certamente nada mais deseja, para aqueles que estão perecendo e correndo para a morte, que retornem para o caminho da segurança. Por isso o evangelho é proclamado hoje por todo o mundo, porque Deus quis testemunhar por todas as épocas que ele se inclina grandemente para a misericórdia”.
f) e acerca de 1 Timóteo 2.4:
“Não há  nenhum povo e nenhuma classe no mundo que seja excluída da salvação; porque Deus deseja que o evangelho seja proclamado para todos sem exceção”.
O reino de Deus, por meio de Cristo, é a base nos escritos de Calvino para a sua missiologia implícita. Acerca de Isaías 2.2, Calvino comentou que haverá “progresso ininterrupto” na expansão do reino de Cristo “até que Ele apareça uma segunda vez para nossa salvação”. Uma das implicações deste reino presente é a destruição da distinção entre judeus e gentios e a necessidade consequente da proclamação dos Evangelhos entre todos os gentios do mundo. Isto também decorre da sua noção de eleição. Diante do governo de Cristo sobre toda a terra, há duas respostas: os repróbos negam o domínio de Cristo e até o atacam e os eleitos são “trazidos para prestar uma disposta obediência a Ele”. Nada poderá barrar o avanço do governo de Cristo. E a tarefa da igreja é pregar a Palavra de Deus porque “não existe outra forma de edificar a igreja de Deus senão pela luz da Palavra, em que o próprio Deus, por sua própria voz, aponta o caminho da salvação. Até que a verdade brilhe, os homens não podem se unir juntos, na forma de uma verdadeira igreja”3. Deus escolheu usar as pessoas como seu instrumento para pregar o Evangelho para todas as pessoas. O que motiva as pessoas a pregar o Evangelho é o zelo pela glória de Deus, a finalidade principal de toda a humanidade. Conforme Charles Chaney, “o fato de que a glória de Deus era o motivo primordial nas primeiras missões protestantes e isto ter se tornado, mais tarde, uma parte vital do pensamento e atividade missionárias, pode ser traçado diretamente em direção à teologia de Calvino”4. Assim, vemos a reflexão do Calvino que contribui significantemente para a teologia de missão hoje.
Algumas pessoas, entretanto, objetam, alegando que a teologia de Calvino levou obstáculos teológicos para o desenvolvimento posterior da missão da igreja. Apontam principalmente para a sua doutrina da predestinação e um suposto mau entendimento a respeito da Grande Comissão.
2. Predestinação. Alega-se, por exemplo, que a doutrina calvinista da predestinação faz a obra missionária irrelevante. Mas esta não é a lógica de Calvino que argumentava que o principal instrumento que Deus usava para salvar as pessoas era a pregação da Palavra de Deus:
“Embora ele seja capaz de realizar a obra secreta de seu Santo Espírito sem qualquer meio ou assistência, ele também ordenou a pregação externa, para ser usada como um meio. Mas para torná-la um meio efetivo e frutífero, ele escreve com seu próprio dedo em nossos corações aquelas palavras que ele fala em nossos ouvidos pela boca de um ser humano”5.
 “Deus não pode ser invocado por ninguém, exceto por aqueles que conheceram sua misericórdia por meio do Evangelho”6.
Porque o número dos eleitos é  desconhecido, cabe à Igreja pregar o Evangelho livre e irrestritamente a todos7. Logo a doutrina da predestinação em nada impede a tarefa missionária. Antes, a encoraja como dever da igreja em prol dos eleitos.
3. A Grande Comissão. É verdade que Calvino interpretou a Grande Comissão  como se referindo ao ministério apostólico do primeiro século. Mas não é verdade que Calvino entendeu que os apóstolos completaram a tarefa para fazer desnececessária a tarefa da evangelização contemporânea. Entendeu que os apóstolos completaram apenas o início da tarefa e que a evangelização do mundo continua uma tarefa para a igreja. Calvino, como os outros reformadores, era apenas contra a doutrina católica da sucessão apostólica e assim argumentava que o apostolado era um “munus extraordinarium” temporário que cessou com os doze. A Grande Comissão fazia parte deste argumento contra o catolicismo, mas não contra a evangelização mundial em si.
4. Missão integral. A dicotomia entre a espiritualidade e o engajamento social não é herança de Calvino, e sim de alguns dos seus seguidores em séculos posteriores.  Para Calvino, o discípulo de Cristo deveria seguir o evangelho no seu pensamento e por ações sociais e políticas8. Esta integralidade de pensamento missiológica é descrita pelo bispo anglicano, Robinson Cavalcanti, da seguinte forma:
“Do ponto de vista reformado, ou calvinista, o homem é um ser integralmente unificado. Deve-se evitar dicotomias. Tudo é esfera sagrada, e deve-se aplicar a Palavra de Deus a todas as áreas da vida. Toda a criação caiu com o pecado e está agora sob a ação redentora de Cristo, que é o Senhor tanto da Igreja quanto da sociedade. Os cristãos devem lutar hoje para manifestar a presença do reino de Deus, embora a sua plenitude somente se alcançará com o retorno de Cristo. Somos salvos para servir. Os cristãos devem se infiltrar em todas as esferas da sociedade para chamá-la ao arrependimento e à conformação às normas do reino. A Igreja é um centro de arregimentação e treinamento de pessoas que se reformam para reformar”9.
Para Calvino, o evangelho toca todas as áreas da vida humana e a igreja deve também exercer a sua missão em prol da transformação de pessoas e das suas instituições sociais, econômicas, políticas, etc. Justamente porque Cristo é Senhor sobre toda a vida, a Palavra de Deus desafia toda a vida humana. Ricardo Quadros Gouvêa afirma: “Calvino não visava em sua obra meramente uma reforma doutrinária e uma reforma da vida da igreja, mas também a transformação de toda cultura humana em nome de Jesus e para a glória de Deus.10” Não nos surpreende, então, que nos seus comentários, sermões, cartas e na sua obra-prima de teologia, “As Institutas”, encontramos a preocupação de Calvino com uma teologia que hoje denominaríamos de “integral”, isto é, com as implicações sociais do Evangelho na transformação completa de pessoas e do ambiente que as cerca11.
5. “Missão” na liturgia. Finalmente notamos a preocupação pela evangelização mundial repetidamente nas orações de Calvino. Segue um exemplo de uma oração assim escrita para o uso no culto dominical:
“Finalmente, oferecemos orações a ti, Ó Deus cheio de graça e Pai de todas as pessoas em geral, cheio de misericórdia, enquanto se agrada em ser reconhecido como Salvador de toda a raça humana pela redenção realizada por Jesus Cristo, teu Filho, para que aqueles que ainda são estranhos ao conhecimento dele, e mergulhados na escuridão, e são levados para o cativeiro pela ignorância e erro, possam, pelo teu Espírito Santo brilhando neles, e pelo teu evangelho ressoando nos seus ouvidos, ser trazidos de volta para o caminho certo da salvação que consiste no conhecimento de ti, o verdadeiro Deus e Jesus Cristo que tu enviaste12”.
Conclusão
Tudo isto mostra o quanto Calvino se preocupava com a missão da igreja e como ela fez parte importante da sua teologia e prática cúltica. Como veremos no próximo artigo, Calvino também se empenhava de modo prático e intenso na evangelização com muito êxito na Europa e dentro dos seus limites externos e internos no Novo Mundo.
Notas:
1. History of Protestant Missions, p. 9.
2. A terminologia de “missão” para se referir à evangelização dos povos (no caso, não-católicos) veio a ser usada somente no século XVI pelos jesuítas e carmelitas que começaram a enviar missionários ao Novo Mundo.
3. Comentário sobre Miquéias 4:1-2, citado em CHANEY, Charles. “The Missionary Dynamic in the Theology of John Calvin,” Reformed Review 17 (Mar. 1964): 28.
4. CHANEY, Charles Ibid., 36-37.
5. CALVIN, João. The Bondage and Liberation of the Will: A Defence of the Orthodox Doctrine of Human Choice against Pighius. Grand Rapids: Baker, 1996, 215.
6. CALVIN, João. Institutas da Religião Cristã, 3.20.12. Veja também 3:20.1; 3.20.11.
7. CALVIN, João. Institutas da Religião Cristã, 3.23.14.
8. BARTH, K. apud BIÉLER, A. O Pensamento Econômico e Social de Calvino,. trad. Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990. p. 29.
10. GOUVÊA, R. Q. A importância de João Calvino na teologia e no pensamento cristão. In: CALVINO, J. A Verdadeira Vida Cristã, p. 5.
11. BIÉLER, André, op cit. SOUZA DE MATOS, Alderi, “Amando a Deus e ao Próximo: João Calvino e o Diaconato em Genebra,” Fides Reformata 2:2 (Jul-Dez 1997), 69-88.
12. CALVINO, João. Tracts and Treatises Vol. 2:  The Doctrine and Worship of the Church. Grand Rapids: Eerdmans, 1958, 102.

É teólogo, missionário da Igreja Presbiteriana Independente, capelão d’A Rocha Brasil e surfista nas horas vagas. Pela Ultimato, é autor de A Visão Missionária na Bíblia eTrabalho, Descanso e Dinheiro. É blogueiro da Ultimato.



            EVANGELISMO CALVINISTA

A doutrina calvinista da Soberania de Deus se faz conhecer em nosso cotidiano através da Providência divina, a qual através da Graça comum capacita a humanidade a gerar uma cultura à existência dos homens na terra. O conhecimento deste soberano governo divino na história dos homens traz compreensão à possível interação entre idolatria humana e a Verdade de Jesus.
“O Calvinismo reconhece Deus no mundo: (...) colocando-se perante a face de Deus, ele tem honrado não apenas o homem por causa de sua semelhança à imagem divina, mas também o mundo como uma criação divina. Ao mesmo tempo o Calvinismo tem dado proeminência ao grande princípio de que há uma graça particular que opera a salvação e também uma graça comum pela qual Deus, mantendo a vida do mundo, suaviza a maldição que repousa sobre ele, suspende seu processo de corrupção, e assim permite o desenvolvimento de nossa vida sem obstáculos, na qual glorifica-se a Deus como criador.” (Abraham Kuyper, Calvinismo, editora cultura cristã, páginas 38, 39)
A afirmação de que a origem da criação e também do homem e sua cultura está em Deus, implica um olhar e relacionamento entre o cristão e o mundo terreno que é distinto da usual separação santo – maldito ou, religioso – secular que nos apresenta a perspectiva romana e evangélica comuns.
No livro, Calvino e sua influência no mundo ocidental (Cultura Cristã), explica Knudsen: "(...) para Calvino, diferentemente do que ocorria com outros líderes da Reforma, não existe dicotomia básica entre o Evangelho e o mundo, entre o Evangelho e a cultura...” (o Calvinismo como uma força cultural, artigo). Conclue, ainda, Kuyper: “(...) E para nossa relação com o mundo: o reconhecimento que no mundo inteiro a maldição é restringida pela graça, que a vida no mundo deve ser honrada em sua independência, e que devemos, em cada campo, descobrir os tesouros e desenvolver as potências ocultas por Deus na natureza e na vida humana.” (Calvinismo, p 40)
Pensando pra evangelizar, podemos refletir que o mundo dos homens não deve ser já declarado condenado pelo pecado que nele há; nem também a cultura que nele revela o agir humano deve ser afirmada inicialmente maldita. Isto porque nem o mundo  criado por Deus e nem a cultura gerada pelo homem, originaram do pecado.
Ao contrário, a natureza e a capacidade do homem de existir e gerar cultura tem origem na “mão” de Deus. A partir deste princípio é possível afirmar que até a busca do religioso e as construções humanas de relacionamento místico tem base original na Pessoa de Deus Pai. Pois a capacidade do homem de empreender artes e conhecimentos, ainda que em direções contrárias a Deus, não deixa de ser um dom comunitário divino à humanidade. Calvino: “Sabemos, sem nenhuma dúvida, que no espírito humano há, por inclinação natural, certo senso da Divindade (...) Até a idolatria no serve de grande argumento em favor desta ideia. Porque sabemos quanto o homem tem se humilhado, contra si mesmo, e em seu detrimento tem prestado honra a outras criaturas (...) Logo, os próprios ímpios nos servem de exemplo de que algum conhecimento sobre Deus existe universalmente no coração dos homens.” (Institutas, vol 1 cap 1, o conhecimento de Deus, p 57 – 59)
Portanto, os princípios doutrinários calvinistas da Soberania de Deus – Providência divina – Graça Comum, direcionam a reflexão e o desenvolvimento pela Igreja de Jesus de um evangelismo natural e espontâneo; pois evangelismo que relaciona a cultura do homem àquele que a criou, Deus Pai. A espontaneidade e naturalidade estão no fato de que o “evangelismo” deverá integrar e aproximar o homem a Deus, servindo-se exatamente das obras da cultura humana. Pois, ainda que observadas distantes e contrárias a Ele, permanecem um potencial divino dado à existência humana na Terra.
Esta surpreendente integração da cultura humana, até idólatra, à verdade revelada que afirma ser Deus o senhor de toda existência humana, surge em análise da missão paulina na Atenas do primeiro século. (Atos 17) Neste texto acompanhamos o evangelista Lucas apresentar o relato dos diálogos que foram base do anúncio do evangelho de Jesus aos homens naquela localidade idólatra.
Neste propósito, Iniciamos meditação acerca do evangelismo em Atenas percebendo como o apóstolo, prontamente se dirige ao centro urbano repleto de deuses, para vê-los tanto em locais públicos e comerciais como ainda em santuários diversos. Logo depois está envolvido em bate papo diário com os supersticiosos e religiosos múltiplos, a fim de aprofundar-se nas novidades. Desenvolve, mais tarde, relacionamento com os que só desejam a felicidade sensual ou junto dos que acreditam na mãe natureza e num deus que se confunde com a criação.
Ainda junto a Paulo, aproveitamos pra conhecer os fiscais de ensino das novas religiões, e isto lá no centro de debates alternativos idólatras, o areópago. E lá mesmo observamos o anúncio que faz acerca de Deus Pai, citando-o a partir de existência conjunta no altar dos doze deuses, aproveitando pra direcionar ao Senhor de Israel os louvores a zeus, conforme cantavam os poetas gregos Epimênides e Arato.
Nesta breve análise, devemos reconhecer que a prática evangelística do Apóstolo Paulo não se permite governar a partir do princípio que pressupõe a condenação da cultura do homem, como pressuposto de valorização da cultura do evangelho. Distintamente, pode-se propor um diálogo que bem relaciona a cultura existente à sua origem e propósito. Tal princípio notamos na experiência paulina em Atenas, posto que o raciocínio do apóstolo apresenta o evangelho integrando-o à cultura humana, exatamente afirmando que a origem desta tanto está em Deus quanto debaixo de seu governo permanece; mesmo quando a enxergamos já mui corrompida.  
Finalmente, como o propósito do Evangelho de Jesus é restauração de tudo que há e salvação de todo que crê, é preciso concluir o processo relacional de aproximação entre cultura do homem e o propósito original de Deus.
Assim esclarece Knudsen (p 14) quando expõe o entendimento calvinista:  “ (...) ao mesmo tempo, ele (Calvino) não aceitava simplesmente, sem critica, as realizações do gênio humano. Sua atitude exigia que tais realizações fossem analisadas quanto às razões que as inspiravam, pois deviam estar sujeitas aos preceitos de Cristo.” Calvino: “Ora, se todos nós nascemos com este propósito de conhecer a Deus (...) ficará manifesto que os que não dirigem a essa meta todas as cogitações e ações de sua vida declinarão e serão abatidos da ordem da criação. Isso não foi ignorado nem pelos filósofos, pois outra coisa não entendeu Platão, tendo ele ensinado muitas vezes que o supremo bem da alma é a semelhança com Deus (..) Igualmente Grilo argumenta com grande sabedoria em Plutarco, afirmando que se a religião fosse eliminada da vida dos homens, eles não somente deixariam de ter qualquer excelência acima dos animais irracionais, mas também de muitas maneiras viriam a ser muito mais miseráveis.” (Institutas, p 62)
E nesta busca do propósito reto que somente a redenção divina promete e alcança, Paulo esclareceu aos estoicos que o Deus de Israel não era mãe natureza, mas sim, o Criador de tudo que existe. Também anunciou, tanto aos estoicos que concebiam um deus criador e ora ocioso, quanto aos epicureus que viam a vida e destino enquanto obra do acaso; que foi Deus Pai mesmo quem planejou e agora governa os tempos e lugares da existência da humanidade. Para que em tempo oportuno sejam por Jesus, encontrados, “bem que não está longe de cada um de nós”, diz Paulo.
E conforme a pastoral tradução bíblica de Eugene Peterson: “o desconhecido é agora conhecido e está pedindo uma mudança radical de vida. Ele estabeleceu um dia em que toda a raça humana será julgada, e tudo será acertado. Também já indicou o juiz, confirmando-o diante de todos quando o ressuscitou dos mortos.” (Atos 17.31)
Enfim, o estudo do evangelismo ministrado por Paulo e o conhecimento das calvinistas doutrinas apresentadas, indicam-nos um princípio de anúncio do evangelho que precisa se unir aos outros, também bíblicos que já conhecemos.
A postura do apóstolo Paulo ao anunciar o evangelho integrando-o à cultura humana sob os auspícios do agir Soberano do Deus Criador, propõe uma palavra de redenção pela aproximação ao invés de palavra de condenação pelo desprezo.
É preciso reconhecer que sentimentos e valores, atos e conhecimentos do homem, sua cultura neste mundo - mesmo que ora contrários a Deus, também d´Ele surgiram enquanto possibilidade e potencia. Esta verdade acerca de toda vida que há na terra é fundamento, tanto de absoluta humildade a todos os homens, quanto de um evangelismo mais espontâneo e natural; pois o anúncio da redenção irá indicar prontamente um retorno do que ora somos ao que originalmente éramos: filhos de Deus Pai!
Foi este o evangelismo de Deus Pai enviando Jesus ao planeta dos homens e igualmente o evangelismo do apóstolo Paulo visitando Atenas da Grécia. E até João Calvino percebeu, tanto que a complexa, mas didática doutrina da Soberania de Deus, ele concebeu. Doutrina que nos orienta, a partir do conhecimento da providência divina e graça comum, a reconhecer que tudo que há e existe está mais perto dos designíos Senhor do Universo do que comumente compreendemos. 
                               Texto do Prof Ivan S Ruppell Jr, pastor presbiteriano